logo RCN
Artigo

Minha vida com Mamãe

  • Maria Francisca Vieira de Souza (1898-1991) -

Ary Silveira de Souza - Hoje, 1º de março de 2022, comemoramos 124 anos do nascimento de nossa sempre lembrada mãe, Maria Francisca de Souza. Quanto mais a gente envelhece  mais se  acentua a saudade de nossos entes  queridos que partiram a chamado do Criador, especialmente de nossos pais. Agora é possível uma avaliação correta  e  consciente do quanto lhes devemos, a começar pela vida.

Como todas as crianças, nós também não tínhamos ainda a capacidade de entender alguns  ensinamentos;  então nossa santa mãe utilizada símbolos de amor e de respeito para que aprendêssemos a distinguir o bem do mal, o certo do errado.

"Meu filho, não mata a corruíra, ela é a galinhazinha de Nossa Senhora". Dizia quando eu já com uma pelota de barro no stiling mirava a pequena ave. Nunca mais atirei em corruíra, eu tinha amor  e respeito por Nossa Senhora, não queria ofendê-la.

"Desvira o chinelo meu filho, se deixar o calçado com a sola para cima.Nossa Senhora chora". Como não queira dar  motivo para Nossa Senhora chorar, nunca mais deixei calçado virado.

Dia de Finados era data propícia para praticar boas ações em intenção das almas. Nesse dia eu e minhas irmãs ganhávamos um ovo cada. Alegremente batíamos e depois de juntar açúcar e farinha saboreávamos  o delicioso lanche.

"Meus filhos, não andem de costa, a mãe da gente morre", dizia ela quando eu e minhas irmãs brincávamos de andar de costas. Perder a nossa mãe?  Nem pensar. Ela sabia que o andar de costas podia facilmente provocar uma queda e bater com a nuca no solo.

Já estás de volta pernas santas? Dizia ela quando eu voltada da venda onde a seu pedido tinha ido comprar algum alimento que havia escasseado. Eu  andava correndo, tocando uma pequena roda de ferro com o auxílio de um arame com um gancho  na extremidade que ficava em contato com a roda.

"São Brás, desafoga este rapaz".Morando de frente para mar, era natural o alto consumo de peixes. Sempre que por descuido engolia uma espinha, a primeira a primeira coisa a fazer era comer uma colherada de farinha. Se depois de engolir a farinha a espinha continuasse grudada na garganta, minha fazia uma espécie de benzimento  invocando o nome de São Brás.

Atormentado pela dor de dente, aos prantos recorria à minha mãe. Ela prontamente fazia um benzimento, se a dor não cessasse  ela  amassava um dente de alho e perguntava se lado da face estava o dente doente. Se localizado no lado direito, ela colocava o dente de alho no pulso esquerdo e amarrava uma tira de pano. Então eu saia para brincar e tempos depois sentia que ação do alho estava queimando o meu pulso. Então, minha mãe retirava o alho e não perguntava se a dor havia cessado. Com o alho queimando meu pulso, nem lembrava mais a dor de dente.

Nas muitas quedas que sofri durante brincadeiras, algumas vezes, gemendo de dor lá ia eu pedir socorro à minha mãe. Ela examinava o local machucado. Se havia ferimento

aplicava  um pano com água de sal. Se a dor tivesse localizada em uma junta, ela pegava uma agulha com linha para faze um benzimento. "Meu filho, quando eu disser o que é que eu coso, você responde, carne rasgada e nervo torto. Movimentava a agulha como fio no ar, sobre o local machucado como se tivesse costurando.

Ela contava que sua madrinha de batismo era Nossa Senhora. No ato batismal, a mãe de Jesus foi representada por uma senhora negra, serviçal de sua família.

'É por baixo do telhado e por cima do silvado". Trecho de uma cantoria de bruxas  presente nas histórias que contava. Alguém que não lembro se era seu pai, ou se tratava de outra pessoa, que possuía uma baleeira de pesca. Na madrugada as bruxas lançavam a embarcação ao mar e enquanto remavam  soltavam risadas e cantavam, contava minha mãe.

"Meu filho, quem velho não ficar a vida vai lhe custar". Foi a sua resposta quando a ela me dirigi para lamentar a vida de uma senhora velhinha que vi conduzindo um carrinho de mão carregado de lenha para o fogão. Disse a ela; mamãe, eu não quero ficar velho.

Quando  criança, geralmente andávamos com os pés no chão. Pisar sobre espinhos, principalmente de laranjeiras era inevitável. Era nossa mãe que cuidadosamente usava uma agulha para retirar os espinhos na sola de nossos pés. A ela também  recorríamos quando no mar pisávamos sobre ouriços ou para retirar bicho-de-pé.

NASCIMENTO - Maria Francisca de Souza nasceu no dia 1° de março de 1898, no  bairro Saco dos Limões, em Florianópolis (SC). Filha de Manoel Severino Vieira e Maria Francisca Vieira. Avós  paternos: Severino Vieira e Anna Vieira. Avós maternos:  Florentino de Jesus e Francisca Teixeira. José Porto dos Santos foi o declarante; foram testemunhas;  Francisco Albino Ramos e João de Oliveira Carpes. A certidão foi lavrada no dia 20 de abril de  1918. O dia 1° de março de 2022 assinalou 124 anos de seu nascimento.

 CASAMENTO;  Thomaz e Maria Francisca contraíram núpcias às 16 horas do dia 11 de maio de 1918, em São José, perante o juiz de Paz Francisco Albino Ramos. Foram testemunhas; Bertolino Silveira de Souza, José Porto dos Santos e Antonia Argentina dos Santos.

FALECIMENTO: Maria Francisca Vieira de Souza faleceu às 10 horas do dia 17 de maio de  1991, aos 93 anos. Seu corpo foi velado em uma das capelas mortuárias da rua Borba Gato e sepultado no dia seguinte no cemitério Dona Francisca, na sepultura onde jazem os restos mortais de Thomaz Silveira de Souza. O atestado de óbito assinado pelo médico Hercílio Hoefner Filho, declara  broncopneumonia como causa da morte.

 

 

 

Joinville prossegue com a vacinação contra a Covid-19 Anterior

Joinville prossegue com a vacinação contra a Covid-19

Na ONU, Brasil mantém condenação à invasão da Ucrânia, apesar da neutralidade defendida por Bolsonaro Próximo

Na ONU, Brasil mantém condenação à invasão da Ucrânia, apesar da neutralidade defendida por Bolsonaro

Deixe seu comentário